sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Passos do descaso...

E eu me pus a caminhar, não foi por hobby ou, talvez, por necessidade de aprimoramento físico, foi sim por necessidade mental, queria me sentir livre, liberto do cativeiro social no qual residem os pensamentos de um povo sem opinião e atitude. Talvez possa ser julgado de maneira diferente, mas e daí? O normal já não é mais tão aparente nas pessoas e a loucura, já compete com a razão.Levantei-me da cama às duas da manhã e ainda com a visão embaraçada e o raciocínio lento, dirigi-me ao banheiro, um banho seria pra mim como uma injeção de realidade e a água que caía em meu corpo nu, no silêncio intrépido da madrugada, era barulhenta e fria como jamais houvera sido em minha vida. O meu nível de concentração e ansiedade atingira o ponto máximo, realmente, aquele era um dia atípico, sob todos os aspectos. Saí do banho e me preparei para aquele desafio,confesso que por vezes me retraí e pensei em desistir, todavia não dava mais! Não dava mais! Psicologicamente, não dava mais!!!Ao colocar o primeiro pé na rua, por superstição, sempre o direito, fiz o sinal da cruz como mandam os meus ensinamentos religiosos, hoje em dia, para muitos, tão subjetivos. E aquela caminhada começou, um passo atrás do outro, sempre cautelosos e calculadamente previstos, tomei a minha direção evitando curvas e caminhando como se fora em cima do mar, como já fez alguém, o qual devemos toda existência, se bem que há quem possa contestar. A temperatura naquela madrugada era amena, não estava frio, porém, ventava muito e de maneira oscilante, uma segunda-feira deserta e convidativa.Segui em frente como se fosse um automóvel, pois andava no meio da avenida, pisando no asfalto que parecia estar dormindo, justo descanso de um guerreiro metropolitano. A sensação de ser dono de uma cidade me consumia e trazia para comigo o senso da realidade, a percepção dos sonhos que jamais foram sonhados e a nítida impressão de que nós somos, na verdade, uma sociedade egoísta, sem exceções e, nesse caso, a unanimidade não se faz parecer burra.Diante de prédios comerciais e residenciais de uma cidade cansada, caminhava imaginando o que a desigualdade pode fazer com a humanidade, o quanto não pensar nos outros, contribui para um mundo subdesenvolvido e colabora para que atrocidades jamais imaginadas em séculos anteriores se façam tão presentes em nosso cotidiano execrável e diabólico. Fui me enojando aos poucos, a cada quarteirão vencido, a cada quilômetro percorrido aumentava o meu repúdio a mim e aos meus companheiros seres humanos, ou seria desumanos? Afinal como pudemos chegar a tal ponto?
E continuei caminhando, sempre firme e atento à situações por nós consideradas meros detalhes. O detalhe de um homem magro, completamente sujo e com roupas rasgadas dormindo em uma calçada grande, talvez mais que sua esperança, juntamente com duas crianças aparentando terem menos que dez anos e uma mulher, que suponho sejam seus filhos e sua esposa, respectivamente. Havia também ao seu lado uma carroça de madeira, por sinal, parecia ter muito tempo de uso, que por certo, é a sua ferramenta de trabalho, ou, traduzindo para o mundo que se diz desenvolvido, sua empresa de prestação de serviços.
E como será que foi dormir o grande empresário em sua mansão? Deitado em uma cama que para ele vale mais que uma vida, num quarto onde o ar-condicionado é indispensável, ao lado sua esposa, que naquele momento pode estar sonhando com seu cabelo, seu corpo, sua bolsa nova, enfim, imagine você mesmo. Será que ele está preocupado com seus negócios? Com seu dinheiro aplicado na bolsa de Nova York? Bem, ele pode ser rico por merecimento, imagino, mas e aquele sujeito dormindo com a família na calçada, por que ele não merece melhor sorte?
Com mais de três horas de caminhada, já havia refletido sobre diversos assuntos e procurado entendê-los de diversas formas, sem sucesso. Procurava pensar em tudo desde o seu gênesis, o mundo já foi destruído em virtude da maldade humana, seria essa a solução? Parece que não, pois o arco-íris ainda vem depois da chuva.
Numa cidade tão grande feito São Paulo, eu caminharia durante dias e observaria milhões de coisas diferentes e merecedoras de reflexão, contudo eu já estava muito cansado e meus passos já eram desordenados, pude extrair desse método terapêutico boas e novas experiências, espero poder voltar a utilizá-lo dentro em breve, sinto-me como se eu estivesse sendo completado espiritualmente e, de certa forma, cumprindo uma missão, não sou hipócrita para ficar apontando a ferida, sei que tenho de fazer a minha parte, mas também não sou burro para achar que mudarei tudo sozinho, deste modo, após essa árdua caminhada concientizei-me ainda mais de que nós precisamos nos salvar! Nós precisamos nos salvar! Urgentemente, precisamos nos salvar!!!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A gente muda! O mundo muda !

Outro dia, em meio a sala de aula, estávamos divididos em grupos sentados uns próximos aos outros. No grupo vizinho percebi uma pessoa que tentava se expressar, dar sugestões relacionado ao trabalho que estávamos desenvolvendo. Porém todas ás vezes que tentava se expressar alguém do seu próprio grupo o interrompia. Talvez o que ele tinha a dizer ajudaria nesse trabalho, ou não, más ninguém o notava. A hora foi passando e a pessoa, após muitas tentativas, simplesmente desistiu. Comecei a refletir:"Quem nunca se sentiu falando aos ventos? Ou até mesmo, se sentiu como um ninguém". Pois é, quando estamos em meio à muitos e não somos ouvidos , é assim que nos sentimos. Há pessoas com espírito de liderança que só precisam começar a falar e as outras param e os escuta. Porém, há uma grande maioria que mesmo que fale, será de certo, interrompida. Essas pessoas sofrem de invisibilidade no meio em que vivem. Voltando ao conceito"Invisibilidade social é tornar uma pessoa invisível", e com este exemplo podemos constatar que isso está presente o tempo todo em nosso cotidiano. Até quando teremos que conviver com esta invisibilidade? Mesmo que a cegueira tenha nos envolvido de tal forma, estejamos prontos à mudar esta situação.
Assisti a um comercial que terminava dizendo: "A gente muda! O mundo muda! "

É isso ai!!!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Quem é quem?


A gente aprendeu a crescer ouvindo o barulho do caminhão subindo a rua. Pelo menos aqui em casa, este é o momento de lembrar se não tem mais nada de lixo pra ser descartado. Aí a gente coloca tudo pra fora do portão e alguém com uma farda laranja recolhe, joga no imenso caminhão e pronto. O serviço está feito.


Ao pensar um pouco mais sobre cegueira pública e invisibilidade social, reparei que não sei o nome dos garis que trabalham na minha rua. Melhor, nem sei se são sempre os mesmos, ou se eles revezam. Cara!! Eu não tenho a menor noção de qual é o rosto de algum deles.


Cegueira!!!

domingo, 16 de novembro de 2008

Invisibilidade. A gente vê por aqui.



É tão bom chegar em casa, tomar um café e relaxar no sofá da sala assistindo uma das novelas da globo. Como é gostoso esperar o dia inteiro para ver o próximo capítulo. Isso é um colírio para os nossos olhos e para a nossa mente. Para algumas pessoas não há sensação melhor. E como nós nos envolvemos com essas novelas, como gostamos de ver o que acontece na vida das outras pessoas, às vezes ate choramos com as histórias.

Quando ligamos a TV podemos ver belas casas, lindas mulheres, as pessoas freqüentam as praias e andam pelas belas ruas de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Os personagens são todos ricos e bem empregados, aqueles que não têm emprego têm uma favela linda para cuidar, onde todos são amigos, e tudo é belo, onde a droga é proibida e a violência nem chega perto.

É tudo tão perfeito, as ruas são limpas, não vemos pessoas pedindo esmola no farol, nem mesmo pessoas dormindo no sereno e no frio. Como seria maravilhoso viver do lado de lá da telinha. Isso tudo que gostamos de ver é só uma forma de fugirmos de um mundo remoto.

Como é fácil fecharmos os olhos e esquecermos de tudo que está ao nosso redor.

A invisibilidade está por toda a parte. Nesse mundo hipócrita tapar o sol com a peneira é tão comum quanto divertido. Afinal nós adoramos comprar “mentiras”, ainda mais quando está em liquidação.

E assim, com todo esse apoio nós vamos aprimorando a cada dia a nossa cegueira.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Precisamos Viver

".... Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."

Dalai Lama


Dinheiro. Há quem diga que o dinheiro não traz felicidade. Mas posso afirmar, o dinheiro traz infelicidade. O dinheiro é o mal da sociedade.
O mesmo dinheiro que alimenta, mata e traz lágrimas.
Convivemos com pessoas que tem dinheiro, assim como convivemos com o dinheiro que tem as pessoas.
O dinheiro mal aproveitado. O dinheiro sacrificado. O dinheiro suado. O dinheiro sujo. A sociedade morre por excesso e por falta de dinheiro.
No Brasil, se faltar dez centavos você não consegue pegar uma condução ate o trabalho. Nesse mesmo Brasil, as pessoas suplicam por dez centavos para VIVER.
Você conhece alguém que depende de dez centavos para VIVER?
Pois eu lhes digo, eu me deparo com elas todos os dias. É a realidade mais comum e triste que vivemos.
Ontem mesmo estava voltando do trabalho quando um senhor de idade entrou no trem, ele tem leucemia, dois filhos pequenos para criar, e esta desempregado por conta da idade e da doença.
Com a voz rouca e baixa ele pediu desculpa, implorou por ajuda, pediu dez, cinco centavos que seja para comprar os remédios e alimentar as crianças.
Ele se explicou, chorou, suplicou. As pessoas continuaram conversando, dando risadas, falando ao celular, enquanto ele está lá, pedindo por VIDA!
Agora imaginem, depender de dez centavos de pessoas que você não conhece, que não te notam, que não te escutam. E no final ser ignorado.
Ele só queria VIVER!
Será que é tão difícil entender que a VIDA não tem preço. Que todos iremos precisar uns dos outros, que no final dessa brincadeira iremos morrer e deixar pra trás tudo isso que tememos perder?





segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O violinista do metrô




Um cara comum, vestindo jeans, camiseta e boné toca durante 45 minutos numa estação de metrô. Ninguém se importa muito com a cena. Afinal, já vimos tantas vezes né?
E se todos ali soubessem que o mesmo violinista se apresentara alguns dias antes no Simphony Hall, de Boston, com ingressos chegando ao custo de 1000 dólares?
Joshua Bell, um dos melhores (e mais bem pagos) instrumentistas do mundo tocava em um violino de milhões de dólares, executando peças raras para uma platéia que era quase que completamente indiferente. Ser aplaudido por uma platéia em noite de gala e dias depois ser ignorado por alguns que talvez até o tenham visto tocar? Como será isso?

O jornal Washington Post foi o responsável pela iniciativa, com um intuito de lançar um debate sobre arte, valor e contexto. Sobre a experiência com Joshua Bell, fica a lição: só damos realmente valor a algo, se ele está num contexto. Sem um pano de fundo demagogo, nós somos capazes de ignorar a existência, o talento e o valor de qualquer ser humano.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sarjetas Capitalistas


Não, não é ficção científica. Essas coisas ainda acontecem por aqui. Temos uma sociedade capitalista que infelizmente se acostumou a enxergar as misérias humanas escancaradas nas sarjetas da cidade. Nas ruas de São Paulo, uma menina de aproximadamente oito anos, se tornou invisível. Todo mundo a olhava, mas era como se ela não existisse. Todo dia às 6 da manhã quando eu passava, ela já estava no farol. Estendia a sua pequena mão, com uma voz cansada e uma educação pouco vista hoje em dia, ela olhava e pedia um trocado. Em alguns momentos a pequena garota tentava ver se alguém estava mesmo dentro do carro, se alguém conseguia vê-la através daquelas janelas escurecidas pelo insulfilm. O farol abria, e ela retornava a calçada. Novamente o farol fechava, e ela voltava a pedir. Era como se fosse uma dança, com passos ensaiados, no silencio infortúnio, sem alegria. Algumas pessoas nem se quer abriam os vidros para dizer não, outras juntavam as moedas e entregavam por uma frestinha na janela, mas nem olhavam para a menina. Era como se as pessoas fossem obrigadas a dar aquele trocado. Alguns nem percebiam que ali estava uma criança, na rua, passando fome, e humilhação. Em certo momento, um dos carros abaixou o vidro, o rapaz se dirigiu a garota, disse poucas palavras, lhe deu algumas moedas e foi embora. Naquele momento, a pequena menina sorriu radiante, e foi saltitando para a calçada. As pessoas que estavam ali ficaram sem entender, afinal ela já havia ganho algumas moedas e não tinha ficado tão feliz. Nesse momento vi o quanto foi importante pra ela ouvir daquele rapaz aquelas pequenas e rápidas palavras, o quanto ela se sentiu bem em saber que alguém conseguia vê-la através daqueles vidros escuros. Percebi que o importante não é dar alguns trocados. Dinheiro não traz felicidade. É preciso olhar pra elas e sentir junto com elas. É preciso ‘colocar óculos em toda humanidade’.