sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Precisamos Viver

".... Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde.
E por pensarem ansiosamente no futuro esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido."

Dalai Lama


Dinheiro. Há quem diga que o dinheiro não traz felicidade. Mas posso afirmar, o dinheiro traz infelicidade. O dinheiro é o mal da sociedade.
O mesmo dinheiro que alimenta, mata e traz lágrimas.
Convivemos com pessoas que tem dinheiro, assim como convivemos com o dinheiro que tem as pessoas.
O dinheiro mal aproveitado. O dinheiro sacrificado. O dinheiro suado. O dinheiro sujo. A sociedade morre por excesso e por falta de dinheiro.
No Brasil, se faltar dez centavos você não consegue pegar uma condução ate o trabalho. Nesse mesmo Brasil, as pessoas suplicam por dez centavos para VIVER.
Você conhece alguém que depende de dez centavos para VIVER?
Pois eu lhes digo, eu me deparo com elas todos os dias. É a realidade mais comum e triste que vivemos.
Ontem mesmo estava voltando do trabalho quando um senhor de idade entrou no trem, ele tem leucemia, dois filhos pequenos para criar, e esta desempregado por conta da idade e da doença.
Com a voz rouca e baixa ele pediu desculpa, implorou por ajuda, pediu dez, cinco centavos que seja para comprar os remédios e alimentar as crianças.
Ele se explicou, chorou, suplicou. As pessoas continuaram conversando, dando risadas, falando ao celular, enquanto ele está lá, pedindo por VIDA!
Agora imaginem, depender de dez centavos de pessoas que você não conhece, que não te notam, que não te escutam. E no final ser ignorado.
Ele só queria VIVER!
Será que é tão difícil entender que a VIDA não tem preço. Que todos iremos precisar uns dos outros, que no final dessa brincadeira iremos morrer e deixar pra trás tudo isso que tememos perder?





segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O violinista do metrô




Um cara comum, vestindo jeans, camiseta e boné toca durante 45 minutos numa estação de metrô. Ninguém se importa muito com a cena. Afinal, já vimos tantas vezes né?
E se todos ali soubessem que o mesmo violinista se apresentara alguns dias antes no Simphony Hall, de Boston, com ingressos chegando ao custo de 1000 dólares?
Joshua Bell, um dos melhores (e mais bem pagos) instrumentistas do mundo tocava em um violino de milhões de dólares, executando peças raras para uma platéia que era quase que completamente indiferente. Ser aplaudido por uma platéia em noite de gala e dias depois ser ignorado por alguns que talvez até o tenham visto tocar? Como será isso?

O jornal Washington Post foi o responsável pela iniciativa, com um intuito de lançar um debate sobre arte, valor e contexto. Sobre a experiência com Joshua Bell, fica a lição: só damos realmente valor a algo, se ele está num contexto. Sem um pano de fundo demagogo, nós somos capazes de ignorar a existência, o talento e o valor de qualquer ser humano.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sarjetas Capitalistas


Não, não é ficção científica. Essas coisas ainda acontecem por aqui. Temos uma sociedade capitalista que infelizmente se acostumou a enxergar as misérias humanas escancaradas nas sarjetas da cidade. Nas ruas de São Paulo, uma menina de aproximadamente oito anos, se tornou invisível. Todo mundo a olhava, mas era como se ela não existisse. Todo dia às 6 da manhã quando eu passava, ela já estava no farol. Estendia a sua pequena mão, com uma voz cansada e uma educação pouco vista hoje em dia, ela olhava e pedia um trocado. Em alguns momentos a pequena garota tentava ver se alguém estava mesmo dentro do carro, se alguém conseguia vê-la através daquelas janelas escurecidas pelo insulfilm. O farol abria, e ela retornava a calçada. Novamente o farol fechava, e ela voltava a pedir. Era como se fosse uma dança, com passos ensaiados, no silencio infortúnio, sem alegria. Algumas pessoas nem se quer abriam os vidros para dizer não, outras juntavam as moedas e entregavam por uma frestinha na janela, mas nem olhavam para a menina. Era como se as pessoas fossem obrigadas a dar aquele trocado. Alguns nem percebiam que ali estava uma criança, na rua, passando fome, e humilhação. Em certo momento, um dos carros abaixou o vidro, o rapaz se dirigiu a garota, disse poucas palavras, lhe deu algumas moedas e foi embora. Naquele momento, a pequena menina sorriu radiante, e foi saltitando para a calçada. As pessoas que estavam ali ficaram sem entender, afinal ela já havia ganho algumas moedas e não tinha ficado tão feliz. Nesse momento vi o quanto foi importante pra ela ouvir daquele rapaz aquelas pequenas e rápidas palavras, o quanto ela se sentiu bem em saber que alguém conseguia vê-la através daqueles vidros escuros. Percebi que o importante não é dar alguns trocados. Dinheiro não traz felicidade. É preciso olhar pra elas e sentir junto com elas. É preciso ‘colocar óculos em toda humanidade’.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dá uma chance pro neguinho...


E de repente, todo mundo virou negro. Que festa!! Que emoção!!Barack Hussein Obama. O primeiro presidente negro do país mais racista do mundo. Já devem estar planejando o assassinato dele, provavelmente. Se sobreviver (literalmente), ao mandato, vira herói, ídolo. Vai ganhar uma estrela na calçada da fama. Se morrer, vira mártir, escreverão livros e filmarão "a queda de um sonho".
Obama é um líder mundial. Obama é "a voz dos oprimidos". Obama prova que tudo é possível na América. Obama saiu de casa de agasalho. (Acreditem, eu li essa manchete).
Não tenho nada contra o Hussein da América. Pelo contrário, eleger um presidente que admite que a guerra contra o terrorismo nunca existiu é um progresso. Só acho que é cedo demais para colocar o democrata eleito neste pedestal.E o que isso tem a ver com a cegueira coletiva? Tudo.
Mesmo sendo justa a eleição, a sensação que fica depois de tanta exposição midiática é que as eleições são um ato de bondade para com os pobres negros americanos, coitados. Por anos a fio, os negros tiveram seus direitos negados, e como já discutimos aqui, o direito de existir foi negado. Sem voz, sem vida.Eleger um presidente negro não quebra isso. Até mesmo porque, se o Obama pisar na bola, vão culpar a raça negra da mesma forma como a estão defendendo agora?
Um líder não deve ser eleito por causa da cor de sua pele. Um líder deve ser eleito pela sua competência, pelo seu caráter. Mas em tempos de politicamente correto, nada mais se duvida, não?Ser educado não é enxergar. E definitivamente, ser negro não é algo digno de sentir pena.


Oba-Oba-Oba
Oba-Oba-Obama
Pra onde o mundo vai olhar
quando apagar a chama?
Quando passar o furor
E a comoção coletiva.
E todo o globo entender
Que por trás da melanina
Existe um ser humano
Que a cor da pele não resolve
Que sua raça nada prova
Que Obama ri e chora,
Que muito bem fala
Mas como todos, também falha.
Oba-Oba-Oba
Oba-Oba-Obama
Será que o mundo realmente o ama?
E quando acabar-se o Oba-Oba-Obama?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Mc Playmobil



Caminhar, em uma tarde de domingo, pelas ruas enriquecidas e pateticamente maquiadas de São Paulo, que, na verdade, esconde uma realidade latente e ardente aos olhos, é a pagina da vida que a sociedade cronicamente doente pelas maravilhas paulistanas fez questão de rasurar.

E esta rasura vai muito além da preferência pelo que é belo, pelo que se destaca, muito mais do que um simples capricho. As pessoas esquecem de uma forma absurda que todos somos iguais, nós brasileiros, vivemos em um mundo imaginário, olhando somente para o que nos interessa, o que nos chama a atenção.

Situações como essa acontecem a todo minuto, passamos pelas pessoas e mal as notamos, isso porque rotulamos os grupos.

Vamos ao Mc Donald's e nem olhamos para o atendente, nem mesmo pra ver se ele é novo ou velho, se esta aparentemente bem ou não. Nós preferimos ignorar, afinal o “cara do MC” esta ali só para nos atender, e nada mais. Talvez porque o uniforme amarelo e vermelho que ele usa diariamente o deixa invisível, colocando-o em uma prateleira, empilhado, junto com os outros, todos iguais, como se fossem brinquedos vivos, sempre ali prontos para nos atender. Ninguém percebe que ele faz parte do meio.

As características, as roupas, o tom de voz, são sempre os mesmos, são todos iguais, isso por que nós nunca tivemos coragem de levantar a cabeça e ver que ali, atrás daquela armadura, existem pessoas, que trabalham duramente durante horas, de domingo a domingo, o mês inteiro, que no fim do ano vendem as férias só pra comprar o presente de natal dos filhos.

Será que eles são premiados pelo esquecimento? Será que a única coisa a fazer é seguir a maioria e fingir que aquele atendente que trabalha no MC do centro é tão igual quanto aquele do MC do shopping?

Rótulos foram feitos para os produtos, e não para as pessoas, os grupos não podem ser rotulados e tão pouco ignorados! Ali existe uma vida, que não pode ser simplesmente apagada da história!

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Enxergando a fome...

Alguma vez você já sentiu vontade de comer um simples chocolate e por qualquer motivo não foi possível? Imagino que sim, sua vontade foi crescendo, mas felizmente, naquele dia, você comeu o chocolate e saciou o seu desejo!
Agora pare e pense! Quantas pessoas sentem vontade de comer qualquer alimento e simplesmente não tem condições, e o pior, na maioria das vezes não é apenas vontade e sim, necessidade. Lembre-se de quantas vezes jogamos alimentos no lixo. Pois é, muitas pessoas com fome estão ali, ao lado, esperando um pouco de comida, e olha o quanto nós a desperdiçamos. Seria tão mais fácil ajudá-los a ter que vê-los procurar restos nos lixos por aí.
Ninguém tem obrigação de ajudar, aliás, nos sentimos como se estivéssemos tirando água do mar com uma caneca, mas não é bem assim, o pouco que pudermos fazer, pode contribuir imensamente para a diminuição de um quadro absurdo, o da fome!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Apenas rôbos?

Um dia, sentada em um ponto de ônibus, peguei-me a observar aquelas meninas iguais. Algumas com roupas diferentes, mas que não se diferiam em nada das outras. Paravam de carro em carro, geralmente em equipe, algumas com um sorriso no rosto, outras com expressão de frustração, e outra, a que me chamou mais atenção, com ar de desconfiança e timidez. Depois descobri que a mocinha desconfiada acabara de ser contratada, tímida por ser seu primeiro emprego e desconfiada, pois até então não conseguira "alcançar sua meta". As outras por sua vez não estranhavam, eram veteranas e já sabiam como funcionava. Quando o semáforo ficou vermelho para os motoristas, elas se uniam em pequenos grupos e seguiam em direção aos carros. Alguns motoristas demonstravam um desprezo tão grande que tratavam aquelas mulheres como se fossem mendigos ou pedintes, pois ao se aproximarem e estenderem suas mãos com os panfletos a quem representavam, só viam os vidros dos carros se fechando. Eles nem ao menos olhavam para o lado, com apenas um gesto retratavam aquele seco e ríspido não! Ainda a observar, percebi que ao ficar verde o semáforo, as veteranas ficavam felizes e eu não entendia a razão. Á essa altura já não me continha ali sentada, com muita curiosidade fui ao encontro delas e as questionei sobre a cena de felicidade que acabara de ver. Percebi que ao me aproximar elas ficaram com um pouco de receio, então as perguntei sobre a cena que me deixara intrigada, daí comecei a compreender quando uma delas me disse: "Será que pensam que somos rôbos uniformizados? Nem ao menos nos olham, não sabem de onde viemos e nem para onde vamos! Não enxergam o ser humano, apenas mais uma no farol!" Ao ouvir este desabafo comecei a questionar-me: Por que só enxergamos o que nos interessa? Por que não pensamos que somos iguais? Todos! Apenas seres humanos!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

E o sol se pôs...
com lisura lhes digo
não sou percebido
e com lucubração, posso afirmar.
Meus passos são leves
meu hangar já abriu
a nave decola
será que alguém vai notar?


Falo pra si
olho pra dentro
e o sofrimento
é apenas meu!
Não sonho com sinecura
mas minha bravura, quero ressaltar.
Pois somos milhões, milhões de ausentes
pobres ou ricos, a labutar.


O conceito execrável
de um ser admirável
não se aplica a mim,
pobre meditabundo.
Pois tenho apenas um nome
e o meu sobrenome
não tem peso algum.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Apenas parte do cenário...




Quem não se lembra da primeira paixão? Eu me lembro bem da minha. Eu devia ter uns doze anos e ela era alguns meses mais velha que eu. Lembro que durante um bom tempo fiquei tentando lidar com as estranhas e novas sensações que aquela menina despertava em mim. E do meu jeito, tentava estar perto, mostrar o que sentia. Foi um insucesso e acho que cheguei a chorar quando ela começou a namorar outro cara. Lógico que eu superei isso. Mas a sensação de não ser notado foi horrível. Descobrir que você não é ninguém para a pessoa que você mais queria que te notasse não é lá muito legal.


Agora, dá pra imaginar como é sentir-se ninguém o tempo todo? Não por causa de uma paixonite adolescente, mas por conta de sua profissão, de sua idade, do lugar onde mora ou por não ter onde morar? Difícil, né?


Quanto mais nossa sociedade "evolui", mais nos isolamos uns dos outros. No tempo em que nos relacionamos de maneira fria e impessoal até mesmo com quem dizemos amar, aqueles que desconhecemos não merecem mesmo nossa atenção. Aprendemos a medir a importância das pessoas não pelo seu trabalho, mas pela sua função, pelo seu salário ou por qualquer outra coisa que seja interessante a curto prazo.


E assim, quantos homens e mulheres são feridos em sua dignidade ao ver negadas as mais simples reações ao seu direito de existir?


Nossa intenção aqui não é apontar culpados, já que todos, repito, TODOS nós temos nossa própria cota de cegueira. Assumir que fazemos parte do problema, talvez seja o primeiro passo para resolvê-lo.


Também não estamos tentando salvar o mundo. Só queremos dizer que o problema existe e que existem meios de vencê-lo.

sábado, 4 de outubro de 2008

Uma nação de invisíveis




Você acorda cedo. Levanta, lava o rosto, escolhe a roupa. Sai de casa, entra no elevador e lá estão as mesmas pessoas. Você não sabe quem são, apesar de morarem no mesmo prédio.Todos dizem "bom dia!", friamente, mas ninguém se despede. Você entra na padaria, pede o pingado e o pão-na-chapa. Olha pro atendente. Você não sabe o nome dele, apesar de ser cliente há tantos anos. Fala sobre o futebol e as notícias do dia anterior. Levanta-se, paga a conta e vai ao trabalho, fica ali durante horas e em algum momento você pergunta se não é apenas mais um número na empresa. Acaba o expediente, você pega o ônibus de volta. Mais uma vez, as mesmas pessoas. Alguém te esboça um sorriso. Você não sabe bem quem é. Ao descer, fica com o rosto na memória. Vai pra casa e dorme intrigado. No dia seguinte, você tem a certeza. Era o balconista da padaria.
Em exemplos como este, podemos observar um problema cada vez mais comum e mesmo assim, ignorado pela maioria de nós. A invisibilidade social.Todos nós de certa forma já ouvimos falar sobre desigualdade social, preconceito, miséria e outras mazelas sociais, facilmente associadas à pobreza. Sobre as pessoas invisíveis para a sociedade, e a cegueira coletiva que tomou conta do mundo e não permite que enxerguemos o próximo como um ser humano que possui identidade e personalidade, pouco é falado.
A raiz da invisibilidade social é a indiferença. Como conceito, invisibilidade social é, basicamente, marginalizar um grupo ou pessoa pelo seu papel social, atividade empregatícia ou situação financeira tornando-a parte de um cenário, uma peça que não merece reconhecimento e por fim se torna invisível.
"Quinhentos e tantos cegos" tem como objetivos relatar, discutir e buscar interpretar os mais diversos
comportamentos sociais que deixa a nossa percepção turva e a visão desfocada. Então, pegue o vidro de colírio, experimente usá-lo e boa-sorte.